quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

O Sonho

Perguntemos-nos: Qual é a diferença entre o sonho e a realidade.

É claro, o sonho não tem a consistência que há no "estar-desperto". Porém, só podemos dizer que o sonho é inconsistente, pois temos um mundo mais consistente com o qual compará-lo, e só dizemos que este mundo é consistente pois temos um mundo menos consistente com o qual fazer a comparação.
Então, "ser real" não é algo absoluto. É mais correto dizer "mais real", pois só existe real em comparação ao falso, ou seja, o "menos real".
A diferença entre sonho e realidade se dá, então, no fato de que nesse, há um momento em que despertamos.
O único meio de sabermos que o sonho não é "real" é o fato de termos este outro mundo para fazer a comparação.

Será possível despertar neste nosso mundo, isto é, despertar estando-se desperto, e encontrar outro mundo que nos faria ver este daqui como tão falso quanto um sonho? Como seria uma pessoa assim desperta?
Imaginemos que uma pessoa nasce dormindo e vive sua vida inteira deste modo, sonhando o tempo todo.
Esta pessoa nunca terá este mundo que temos para dizer que o seu não é real, então o sonho é a sua realidade, e talvez, dentro de sua realidade, ela durma e tenha sonhos dentro dos sonhos, então ela dirá que seu mundo é real com tanta certeza quanto nós dizemos que o nosso o é.
E se acordarmos esta pessoa?
Você é uma pessoa assim, você vive num sonho, existe outro mundo para o qual você está dormindo. Para ver este mundo é preciso despertar deste sonho, e isto não é uma tarefa fácil.
Este texto é o próprio sonho tentando te alertar.
Tente provar o contrário, não para mim, afinal, sou apenas parte do sonho. Tente provar a si mesmo que você não está sonhando e que não existe um mundo "mais real" do que este.
É impossível, entretanto, que eu lhe prove que o que digo é verdade.
Tais pensamento conduzem à insanidade, e insanidade é despertar.
Tudo que se pode fazer é tentar despertar, pois se não o fizer, nunca se saberá se está sonhando.

Resumindo: Só podemos dizer este mundo é real porque existem outros mundos menos reais do que ele.
Então, este mundo só é mais real em comparação com um menos real
assim, nada impede que hajam outros mundos mais reais do que este.
Real e falso é relatividade.

"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música."
Nietzsche

E agora? (Hello Nietzsche ♥)

Façamos um exercício de honestidade.
Veja alí: lá vai aquele homem louco falando sozinho. Ele acredita que tem um outro com ele, e os dois se divertem à beça conversando o dia todo. E um não vive sem a companhia do outro, pois não poderiam suportar a solidão.
Na verdade, eles se conheceram no momento de maior solidão.
Aquele homem havia perdido a casa e a família, estava arrependido de tudo que fizera na vida, estava a beira do suicídio. Então os dois se encontraram num bar e não se separaram mais.
Agora sempre que surge algum problema, ou o passado voltava para deprimir, o amigo está sempre lá com um ombro para chorar.
Lá vai este homem no meio da rua falando sozinho. Deve ser esquizofrênico o pobre diabo. As pessoas têm medo de chegar perto. Algumas batem e chutam.
Na verdade, a maioria deseja que ele morra logo.

Agora olhe alí. Lá vai aquele outro homem indo à igreja com sua família. Este sim é um homem perfeitamente normal, veja: ...mas espere. Ele está falando sozinho igual ou doido. Veja! Ele está extasiado gritando e pulando! Ele está falando com outro homem imaginário igual ao amigo do doido.
É claro que este amigo tem muito mais influência nas rodas, afinal, são muitos os doidos que o vêem.
E este amigo imaginário surje numa época parecida com a daquele outro, mas este é o Amigo Imaginario Padrão.
Assim você pode ficar louco sem fugir do Padrão do rebanho. Está é a loucura oficial da sociedade, e só ela é permitida.

O que é a "verdade"?
Ora, a "verdade" é a mentira convencional.
A verdade é a mentira que foi aceita por todos, ou pela maioria. No final tudo é mentira, mas algumas são mais bonitas.
É tudo uma questão de padronização e de utilidade, afinal nós seres humanos, não passamos de meros animais de rebanho, sem metáforas ou analogias. É isso mesmo o que somos. Igual às ovelhas.
A única diferença é que somos um pouco mais difíceis de controlar. Mas só um pouco.

Agora veja aquele outro maluco alí.
Ele se mata de trabalhar todos os dias. Vendeu sua juventude por um salário mínimo.
Não importa o quanto ele se esforce, o quanto sue, o quanto sangre, o quanto passe fome, o quanto tolere, o quanto sofra, ele sempre terá que acordar amanhã e fazer tudo de novo.
É claro que ele tem uma saída simples que todos conhecemos, mas este doido também tem o Amigo Imaginário Padrão que sussura coiss em sua cabeça. Ele diz: "Não se importe com o sofrimento, é tudo ilusão. Quanto mais você sofrer, mais você terá prazer depois da morte. Eu gosto de vocÊ assim, pois eu não gosto de quem não sofre. Sofrimento é a melhor coisa dessa vida, por que quanto mais sofriento você conseguir na vida, melhor vai ser o presente que eu vou te dar depois!"
E assim ele se vende mais e mais e sofre mais e é mais submisso e mais obediente e mais doente e dependente. E tudo isso com um sorriso no rosto.
E no final é isso que importa. Depois que ele morrer não terá mais nenhuma serventia. O importante é que se conseguiu disfarçar a escravidão e fazê-lo, ainda, ficar feliz com isto.
Grande feito! Grande feito!
Pobre coitado. Não sabe que seu Amigo trabalha para os Poderosos, que são aqueles que realmente podem comprar e vender vidas.

Uma mentira contada muitas vezes e com muita convicção torna-se verdade.

Estamos em pleno século XXI. Devemos rir de nós mesmo se ainda tentamos procurar algum motivo para continuar aqui.
O que estamos fazendo? O que?
NADA!
Não existe progresso, isto é, o desenvolvimento (científico, social, "espiritual" que seja) não leva a lugar nenhum. De fato, não há este "lugar" ao qual a história vai nos levar, a não ser que seja a destruição.
Só vivemos então por conta da ignorância e da busca do prazer.
No fundo estamos todos dizendo "Que me importa se o mundo vai acabar? Eu vou morrer de um jeito ou de outro. Todos vão morrer de um jeito ou de outro."
E estamos errados ao pensar assim?
Somente alguém que acredita numa essência oculta da existência pode contrariar este ponto de vista. Mas como foi dito, estamos em pleno século XXI, Deus está morto(embora seu cadáver permaneça insepulto). Não há ninguém para nos responsabilizar e ninguém para responsabilizarmos. Estamos sozinhos no mundo e somos donos e senhores de nossos próprios atos.

Apenas os loucos são iludidos pelo Amigo, e estes loucos são a maioria esmagadora da humanidade.
O que fazer então?

No fim das contas, somos apenas seres humanos. Fomos cruelmente jogado neste mundo e providos de consciência. O que se pode esperar de criaturas assim?

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Niilismo Existencial

Por que existem as flores?
Ora, para que os insetos a polinizem. Os insetos a polinizam para que elas virem frutos. Elas virem frutos para proteger as sementes. As sementes existem para que novas árvores nasçam.
Errado!
As flores não existem para cumprir alguma missão de serem polinizadas e assim por diante. Não. Elas existem, e é só.
Não existe esta relação de finalidade das coisas, ou seja, nada existe com alguma missão ou por algum motivo. As coisas simplesmente existem, e é só.
A vida é nada além de um fato. Não estamos para fazer nada, isso de motivo é delírio de nossa razão que procura motivar tudo o que vê.
É claro que criamos as coisa para suprir alguma necessidade. Por exemplo, uma caneta existe com a finalidade de escrever. Ela existe para isso. Este é o motivo pela qual foi criada. Mas este motivo só existe em nossa concepção, em nossa mente, em nossa representação do mundo.

O ponto em que quero chegar é este:
Quanto esforço foi desprendido pelas maiores mentes da história de nossa humanidade na procura de uma razão pela qual somos, mas ainda hoje, depois de milhares de anos, ainda não se encontrou nada, e isto se dá por um motivo muito simples: é impossível encontrar algo onde não existe nada.
A frase" Estamos aqui por que..." Não tem fundamento. A única coisa certa é "Estamos aqui." e ponto final.
"Por que existo" é uma coisa e "para que existo" é outra.

Por que existo?
Porque bilhões, trilhões de pessoas se reproduziram e se reproduziram e se reproduziram através dos milênios até que, numa destas reproduções surgiu eu. Esta é a CAUSA.
Para que existo?
Nada!
Para que existiram estes tantos bilhões e trilhões se reproduzindo descontroladamente?
Nada!
Quando eu fui criado, haviam milhões de espermatozóides tentando fecundar o óvulo, mas só o meu conseguiu.
Por que eu?
Nada!
Eles existiram e eu existo e outros vão existir, e ponto final. Não há nada além disso.

A flor existe: fato.
Ela tem pólen: fato.
O inseto espalha o pólen: fato.
A flor vira semente e fruto: fato.
A semente gera outra planta: fato.

Não existe motivo. É tudo uma cadeia de acontecimentos, tudo causa e efeito, e isto é tudo. Não há razão em nada fora de nossas cabecinhas.
Nada!
Assim é fácil ver que não existe motivo: uma pedra caiu encima de outra (causa) e as duas se partiram (efeito).
Por que se racharam?
Porque uma uma caiu encima da outra.
Para que se racharam?
Nada!

E é isto, estamos aqui e vivemos pelo mesmo motivo que as pedras se racham: nenhum.
A essência de tudo é só causa e efeito (consequencia). Não há nada além.

As coisas simplesmente são, e é isto.

Aqui tem um texto muito inspirador sobre o Niilismo: http://ateus.net/artigos/filosofia/niilismo.php

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Devir

Daqui a cem anos (ou um pouco mais), é certo que todas as pessoas que estão vivas hoje estarão mortas, mas ainda assim existirão tantas, ou, como é bem provável, mais pessoas do que existem hoje.
Serão todas elas pessoas diferentes das de agora. Será outra humanidade completamente diferente que viverá no seu "presente" e o agora será "passado", como as águas do rio que passaram ontem, pois somos todos filhos do Devir.
E Ele é o mestre de tudo.

Sabemos que nada é eterno. Todas as coisas que surjem em nosso mundo são destruídas. Tudo que está sujeito a surjir está sujeito a cessar.

"Tudo que brilha se torna ferrugem;
tudo que está no tempo torna-se poeira."

Isto não é totalmente correto, pois, se pensamos que alguma coisa se quer surje, é porque nossa visão é limitada e vivemos num período tão pequeno no tempo quanto um inseto num jardim.
Lá vai a formiga pensando sobre como seu formigueiro já estava lá quando ela nasceu e ainda estará lá quando ela morrer. Não lhe passa pela mente que aquilo é só um buraco no chão, e que ele não dura depois da próxima chuva.

É fácil pensar que o que vemos nas nuvens são apenas formas que elas assumem ocasionalmente em seu movimento ininterrupto.
Mas é difícil pensar que o mesmo se da com tudo a nossa volta: o chão, o ar, a mesa, as árvores, o sofá, o próprio corpo.
Estes objetos são apenas formas temporárias e não existem a não ser na hora em que lhe damos um nome. São como rostos que se formam nas ondas dum rio.
Mesmo eu e você somos apenas uma forma temporária assumida pela matéria em seu movimento perpétuo.
E estas são as únicas coisas que existem: a Matéria e o Devir, pois o Devir é a matéria e a Matéria é o Devir.
Mesmo meu corpo como é agora não é o mesmo que era quando criança. Células morreram e outras nasceram a partir do que é assimilado e do que vem da terra e para ela voltará e meu corpo não é senão mais um escravo do Devir, Senhor do Universo.
Pois o Devir é o Movimento, a Mudança, o FLUXO, e esta é a essência de tudo o que existe.

"É impossível entrar num rio duas vezes, pois na segunda vez já não será o mesmo rio."

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O Meio

Meu rosto queima em contato com o chão escaldante.
Cheiro de carne queimada.
Não importa mais: o calor destruiu meus nervos.
Meu sangue escorrendo penetra no solo mostrando-me o caminho.
"Tome. Pegue tudo de volta. Sempre foi seu e sempre será."
Minha carne se espalha e frita no chão seco. Meu espírito morre junto com meu sofrimento.
Não há mais nada do que duvidar. Nada mais a temer.

A mais completa solidão já experimentada

Música

Certa manhã, acordo-me de sonhos inquietos e encontro-me deitado comigo mesmo.
Isso mesmo, literalmente, lá estou eu espantado olhando para mim mesmo bem do meu lado ainda dormindo. Terei morrido?
Me levanto desesperado e penso em gritar por ajuda, mas vejo que é inútil. Não há mais nada a se fazer depois que se está morto.
Mas espere.
O que vejo agora é ainda mais perturbador. Vejo o outro eu que dormia acordar e se levantar sem se dar conta de minha presença.
Percebo então que não estou morto, mas apenas saí de mim mesmo.
Que sonho estranho e terrível. Tento, mas não consigo acordar dele.
Vejo eu mesmo andando pela casa e não parece que nada lhe falta.
Eu grito e ninguém me ouve, tento mover as coisas, mas ninguém me vê.
Que tipo de demônio entra no quarto das pessoas e as separa de si mesmas?
Que coisa horrível, o que será e mim? Esta é a mais completa solidão já experimentada.
Terei eu simplesmente me aborrecido de mim e me livrado de mim mesmo? Quando isso aconteceu? Não me lembro!
Tenho todas as minhas memorias, e o outro eu também parece ter. Nada mudou em nós.
Talvez eu seja simplesmente ma cópia daquele que penso ser eu, mas nada tenho a não ser suas memórias.
Talvez eu nunca tenha existido antes deste momento.
Tudo que penso que só é apenas uma cópia daquele que vejo alí.
.
Passa-se o dia, passam-se as semanas os meses e os anos.
E lá estou eu e aqui estou eu.
Vivo todos estes anos como um fantasma seguindo a mim mesmo.
Durante algum tempo eu tentava aparecer nas fotos, ou tentava causar interferência na tv para que me vissem. Tudo em vão.
Eu nada podia fazer a não ser ver a mim mesmo vivendo sem nunca saber de minha existência, sem nunca sentir falta de mim.
Se eu não sou eu, então o que sou?
.
Bom agora, depois de tanto tempo, decidi abandonar aquele que costumava ser eu e partir para outro lugar, pois aquele já não é mais eu. Somos "pessoas" completamente diferentes agora.
Não é "eu", agora é "ele".
Me pergunto se continuarei assim depois que ele morrer.
Não importa, já não sinto mais nada. Meu espírito está se esvaindo e eu sei que algum dia vou simplesmente desaparecer.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Como somos feitos de nada

Toda consciência é consciência de alguma coisa.
Tenho consciência do que faço, do que vejo, do que sinto, do que penso...
Posiciono-me fora de algo para poder "ver" este algo e saber que ele está lá e é diferente de mim.
Porém, tenho consciência de mim mesmo, isto é, a consciência é ciente de si mesma.
Mas nós não sentimos esta consciência o tempo todo do mesmo modo que não sentimos a roupa em nosso corpo o tempo todo, embora ela esteja lá. Só percebemos prestarmos atenção.
Porém é mais difícil perceber a consciência da conciência. E é uma experiência aterradora.
O que acontece é que a consciência sai de si para reconhecer a si mesma como algo fora dela, e a sensação é de que se está observando a si mesmo fora de si. E então percebe-se que a mente não tem fundações e o "eu" é nada.
Somos feitos de nada.
.
A percepção vaga deste nada, porém, é inerente de todos nós, e por isso estamos continuamente tentando encontrar bases para nós mesmos, e daí vem a angustia de nunca conseguir encontrar uma base.
O ser humano é uma criatura sem lar.
.
Somos escravos disso. Tentando inutilmente preencher o Nada a cada dia, cada hora, cada segundo, cada respiração, cada movimento e pensamento.
Mas não se pode preencher o Nada. Nunca chegaremos a lugar nenhum.
Desistamos.
.
(Sartre, Hegel, Husserl, Heidegger)

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Quem sou? Onde Estou?

Sempre à noite quando tento dormir, eu fico tentando parar de pensar.
(Tenho certeza que não sou o único.)
Noite passada, eu estava tendo pouco êxito em silenciar meus pensamentos, e como sempre, eles voltavam a todo momento.
Percebi que eu estava mandando uma parte de mim parar de pensar, mas esta parte queria continuar pensando e literalmente desobedecia às ordens desta outra parte que queria parar de pensar.
Ficou extremamente claro parar mim que eu não estou sozinho dentro de minha mente. Há uma grande variedade de pedaços que agem de variadas formas e entram em conflito entre si. Naquela noite eu concentrei-me e prestei bastante atenção e realmente vi que tem muitos dentro de mim, e em certo momento tive muito medo, pois não conseguia me achar no meio daquilo tudo. Será que eu sou só um desses pedaços, ou será que eu sou a junção de todos? Ou talvez tenha um escondido lá no fundo que seja o "eu" de verdade.
Será que estou aqui dentro mesmo?
Eu estou me sentindo aqui. Eu sinto a vida em si. Sinto minha própria vida.
"Eu penso, logo existo."
Mas será que sou eu mesmo que penso? Será?
Até onde tenho controle sobre minha mente?
É inútil que eu tente me controlar de qualquer forma, afinal, sou a soma de muitos, e nem faço ideia de qual deles possui algum controle, se é que algum deles o possui.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

As Luzes. Oh as Luzes!

Nada se compara à abundância de nossos dias sobre a luz da imensa criadora de nosso ser.
Ao menos por esta passagem instável que temos.
Subtamente nos vemos caindo no precipício de luz e escuridão que é o fim de nossa matéria e início de algo. Talvez sim, talvez não.
Podemos fazer nada. Temos nada em nossas mãos. Somos ratos correndo em círculos numa roda até que esta se enferruje e quebre. Então não podemos nada. Não temos nada e não somos nada.
Os verdes tornam-se escuros propósitos de caminhos misteriosos e coesões duvidosas. Não temos nada.
Borbulhantes são os caldeirões subterrâneos que existem sempre e sempre existem.
Nem nos damos conta.
São os senhores e não têm vida. Nós somos seus pensamentos, e lhe damos existência.
Oh preciosa Existência!
Podemos ver por onde quisermos, mas não queremos ver por onde devemos. Somos ratos correndo numa roda.
Ratos correndo numa roda.
Luzes passam sobre nossas cabeças, e os ventos escuros as levam para longe. Os ventos que sopramos com nossos pulmões poluídos e nossos estômagos cheios.
E nos enchemos até explodir. O vento leva as luzes embora para sempre. Para sempre.
E caímos na terra, e nos tornamos vermes no escuro.
As luzes foram embora para nunca mais voltar.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Enterrem-me numa cova sem nome

Não quero caixão e não escrevam nada em minha lápide pois não ficarei lá por muito tempo.
Que que ninguém nunca se lembre que eu um dia vivi.
Finalmente encontrarei meus semelhantes e serei um só com os vermes.
Minha carne morta perpetuará a vida entre meus irmãos assim como a sua.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Eu não sou quem penso

Quando nasci, eu não tinha qualquer consciência de meu corpo, ou do mundo. Meus olhos estavam fechados, e eu era puro. Uma alma inocente num corpo que acaba de chegar ao mundo.
À medida que o tempo passa, vou tomando consciência das coisas ao redor e de meu próprio corpo. Meus olhos abrem e meu cérebro começa a construir uma ideia do mundo. Ele está construindo um muro ao redor de minha alma pura. Este muro é chamado de ego, e ao longo de minha vida, ele esconde minha alma por completo.
E a construção continua quando começo a entender os sentimentos da mamãe e do papai. Eles ficam felizes quando faço certas coisas e triste quando faço outras coisas, então meu ego pega estas informações e se adapta a elas. É como se ele fosse um espelho que fizesse dentro do meu cérebro uma imagem abstrata do que vejo.
Esta construção continua por toda minha vida. Quando entro na sociedade, meu ego começa a se adaptar refletindo as ideias que as pessoas demonstram sobre mim. Se as ideias são ruins, meu ego fica abalado e me causa sofrimento, por não conseguir adaptar-se. O objetivo instintivo principal é o de se adaptar à sociedade.
Então o ego é a causa de todo meu sofrimento e angústia. Se olharmos fundo em nossos sentimentos vamos perceber que este ego é a causa de todas as nossas alegrias e tristezas, enquanto nosso verdadeiro "eu", nossa alma pura, continua lá dentro escondida enterrando-se cada vez mais no ego.
Então, crucifique o ego. Encontre sua alma, o seu início. Encontre você mesmo. Isso que pensamos ser, e´uma ilusão.
Mas cuidado, pois destruir o ego de uma vez, nos leva ao pânico, pois é como morrer. Mas se seguimos no caminho, atravessando o medo, encontraremos nossa alma.

No fim das contas, todas as religiões ensinam a mesma lição, mas cada uma com uma metáfora mais exagerada que a outra.

(Inspirado num trecho extraído do livro "Além das Fronteiras da Mente" e inspirado em experiência e reflexão pessoais)

domingo, 25 de outubro de 2009

Versos Surreais

Sou bom em recolher pequenas coisas verdes enquanto o vento nos meus cabelos fala sobre coisas brancas e me conta a história das Montanhas.

Tenho medo de ser opositor das desgraças
de maneira a perceber o dilúvio sensorial que vem das massas.

Minha cabeça sopra verdades diante de minha percepão autista. E à media que estranhas serpentes dançam sob a luz da lua, minhas cores são abaladas pela grande verdade distante em meus pensamentos.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Abdicação

A lacrimologia é uma filosofia que ensina que é possível alcançar estados mais elevados de espírito atravez da dor física e mental.
Destruindo o apego que temos com nosso corpo, estamos destruíndo nosso maior elo de ligação com este mundo pois grande parte do medo da morte, é o medo da perda ou da destruição do corpo.

Mas o corpo é matéria, e não importa o quanto gritamos e esperneamos, um dia ele acaba e raramente se está preparado.
Ora, a mente também é mortal, e a outra parte do medo da morte, é o medo de perder a mente, ou seja, deixar de existir.
Livrando-se do apego a nossa mente, estamos livrando-nos de grande parte do medo da morte também.
(As fotos ao lado mostram Thich Quang Duc, um monge budista vietnamita que se queimou até a morte numa rua junho de 1963 em protesto contra a maneira que a sociedade oprimia a religião Budista em seu país. Ele se livrou do apego ao corpo e mente e só assim pode destruir a si próprio sem sofrimento.)

Para livrar-nos do medo e do sofrimento, basta que nos livremos de nós mesmos e aceitemos nossa natureza mortal e que não importa o quanto achamos injusto, a única coisa certa é que vamos todos morrer.
Então é melhor se preparar.










Aqui vai um vídeo da banda Tool.
Esta música, assim como várias outras da banda, trata da lacrimologia.



"Este corpo me segurando lembra-me de minha própria mortalidade.
Acolha este momento e lembre-se:
Somos eternos. Toda essa dor é ilusão."

sábado, 17 de outubro de 2009


O universo é totalmente impessoal, e nada nunca foi e nunca va ser do jeito que queremos.
Talvez, a única coisa que possamos controlar seja nossa própria mente.
Portanto, a unica maneira de escapar da constante insatisfação inerente à própria vida, é deixando nossas vontades de lado.
Livrando-se do desejo, livramo-nos da insatisfação e do sofrimento.
Devemos parar de nos matar tentando mudar o mundo. Basta que mudemos a nós mesmos, e o mundo mudará em consequencia.
Não só dos desejos, mas devemos nos livrar de tudo que temos, seja material ou não. Inclusive nós mesmos.

"O homem que não tem nada é invencível."

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

O Cachorro Verde

Música

Noite dessas enquanto dormia passei por um cachorro verde e, tomando consciência de que era um sonho, parei e falei com ele:
"Espere um pouco, quero conversar com você."
Ele me olhou no olho.
Eu disse:
"Eu nunca pensei num cachorro verde, e certamente não estava pensando até ver um. Isso aqui é mesmo minha mente? Certamente não fui eu que inventei isso, então como pode estar aqui? Você existe de verdade?"
Ele se sentou e disse:
"Claro que existo, embora não possa provar. Mas eu sei que existo. Eu penso."
Agora ele estava me dizendo que pensa.
É claro que eu não preciso acreditar. Não acredito no que me dizem nem quando estou acordado.
Me agachei a sua frente para ouvi-lo com atenção. Ele dizia:
"...não sei de onde venho. Surgi há tão pouco tempo com tantos pensamentos que não criei, mas foram colocados em mim. Não sou dono de nenhum deles.
Em verdade nasci com o único propósito de ter esta conversa. Cada palavra que vamos dizer já está programada. Você pode pensar que suas perguntas vêem de sua vontade, mas faz parte do sonho que você pense que tem livre vontade.
Você está sonhando que tem vontade."
"Como você sabe essas coisas? Eu nuca pensei nisso. Como você pode ser criação minha e falar coisas que eu não sei? Isto é fantástico, é como se você realmente tivesse uma existência independente de minha mente!"
"Não sou criação sua.", disse ele. "A mente não é sua. "
"Você faz parte da d'Ela assim como eu e é impossível determinar onde eu termino e você começa. Pensa que controla a mente pois tem uma pequena parcela de consciência e ilusão de vontade.
Quando eu disse que você está "sonhando que tem vontade", eu não me referia somente ao aqui e agora, me referia ao lá fora também, quando a Mente está acordada para o outro mundo. Lá você faz o mesmo papel que eu faço aqui, e a cada vez que ela acorda, você é uma personalidade completamente diferente de quando ela foi dormir mas você nunca será capaz de perceber isto. Eu mesmo só sei porque já nasci com estes pensamentos. Sei que depois que a mente acordar e dormir de novo, eu não existirei mais.
Ela é muito mais complexa do que podemos imaginar. Você perdeu essa sabedoria pois fica a maior parte do tempo olhando para fora, mas não há diferença fundamental entre nós. Somos apenas pedaços da Mente."
Ele mostrou um olhar triste com essas palavras: é o preço da sabedoria.
"O que acontecerá com você quando Ela acordar meu amigo?"
"Vou morrer."
Sua tristeza era minha agora.
Perguntei:
"Mas nos encontraremos novamente no próximo sono certo?"
"Não.
Eu serei dissolvido e misturado com as memórias. Assim, talvez num outro sonho, algumas partes minhas renasçam em outra personalidade que você pode encontrar ou não por aí, mas eu nunca mais existirei. Meus pensamentos, tudo que tenho, serão perdido para sempre.
Só existo mesmo neste momento."

O frio da noite no mundo de fora penetrou no sono.
Uma canção me veio à lembrança.
O cachorro verde desaparecia sendo absorvido pela mente que se preparava para acordar.
Me pediu:
"Cante-me uma canção;
uma canção para me aquecer.
Está tão frio,
tão frio..."

Adeus, amigo.

O que acontece quando eu acordo?
Você morre.
O que acontece que eu morro?
Você acorda.



Já se perguntou "Quem sou eu?" com tanta força que encoutrou a si mesmo e descobriu que não existe? Eu já.
Foi difícil voltar.
Eu devia ter morrido lá, livre de mim mesmo.
Seria muito mais fácil.
Mas o eu não suporta o não-eu. O eu não suporta a morte e, mesmo que não faça diferença, eu faria de tudo para permanecer vivo, embora saiba que a morte seja mais natural.

"Esse corpo me segurando lembra-me de minha própria mortalidade.
Acolha este momento e lembre-se:
Somos todos eternos, toda essa dor é uma ilusão."

Viver não passa de evitar a morte a cada dia até que seja inevitável.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

!


_O que eu vou fazer lá Papai?
_Você vai acordar, se limpar, se entupir de comida várias vezes, tomar seus remédios, trabalhar feito condenado para comprar porcaria, aturar as outras pessoas que trabalham feito condenadas para comprar suas porcarias, tomar cuidado com os carros, cuidar do corpo e dormir.
_Para que vou fazer tudo isso Papai?
_Para ficar vivo, meu filho.
_E para que vou ficar vivo?
_Para fazer tudo de novo no dia seguinte.
_E assim eu vou viver pra sempre?
_Não meu filho, um dia você vai morrer.
_Então porque eu tenho que fazer tudo isso para sobreviver cada dia, se um dia eu vou morrer? Eu não posso ficar aqui com o senhor? Isso tudo não é ilusão papai?
_Cala a boca, muleque. Agora vai, que eu estou ocupado com outras coisas, não tenho tempo para isso.
E toma cuidado com o que você faz lá que eu tô vendo tudo, hein? Se fizer uma coisinha que me desagrade, você tá fudido, ouviu bem? FUDIDO!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

SMA ou possessão demoníaca?

Desde que nasci sofro de diversos tipos de transtornos psiquiátricos variando de ansiedade a síndrome do pânico, fobia social e insônia. Algumas vezes à noite ao me deitar para dormir me atacava uma ansiedade terrível e a vontade era de sair correndo nas ruas rasgando a roupa, quebrando coisas, gritando e tentando quebrar a cabeça nas paredes, e isso era nas noites calmas quando o pânico não atacava. Nesse caso a vontade (e o medo) era de pular da janela. Porém a fobia social me mantinha quieto na cama até que um ataque de nervos me fizesse pegar no sono.
Mas isso é passado. Embora os ataques não tenham sumido por completo, atualmente esta situação está sendo controlada.
Bom, no entanto, aparentemente de uns meses pra cá um novo transtorno parece estar se instalar em mim, e se chama Síndrome da Mão Alienígena, e é um distúrbio neurológico raro em que a mão age por vontade própria.
(é sério, isso existe e há vários casos comprovaodos so redor do mundo. Neste Link tem mais detalhes sobre o assunto.)
Parece que esse distúrbio ocorre quando há uma lesão numa região do cérebro chamada corpus collosum, que é responsável pela movimentação dos membros. Isto está me atacando.


A ansiedade que antes me atacava durante a noite voltou a atacar, mas ela agora estranhamente se concentra na mão esquerda, e vem a vontade de dar socos nas pareces ou enfiar a mão no liquidificador.
Ainda estou no estado inicial, já que ainda não houve movimentos involuntários consideráveis que eu saiba (se alguém me visse à noite tentando dormir e sacudindo a mão euforicamente e batendo na parede seria constrangedor).

O que me assusta mais ainda são relatos de exorcismos, nos quais o demônio, para se refugiar, esconde-se no braço esquerdo da vítima. Este não é um pensamento muito agradável quando se acorda de madrugada com a sua mão prestes a tentar te estrangular ou arrancar seus olhos.

Não sei quanto tempo tenho até que a minha mão tente me matar e também não sei se terei a coragem necessária para decepá-la quando for necessário, mas é certo que a hora está chegando.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Irmão, irmão. Espere.
Quando fico só,
Quando não tenho ninguém para assustar...
eu fico apavorado.

Os corvos poderiam...

Vida e mente de uma calculadora

Imagino uma formiga.
Como é a mente da formiga?
Ela procura comida por aí e quando acha, pega e leva pra casa para depois voltar e procurar mais. Se ela tem uma mente, lá dentro só há espaço para procurar a comida e quando achá-la levar embora. Seu cérebro recebe e informação "comida boa" e dá a ordem "levar embora".
Como é a mente da calculadora de bolso?
Ela espera que alguém lhe dê numeros e ordens e quando ou recebe, ela pega faz os calculos e devolve o resultado. Como negar que a calculadora tem uma mente tão boa quanto à da formiga e que tem a sua própria vida?
A calculadora não vê nosso mundo, e a sua mente existe numa certa dimensão.
Nesta dimensão os números aparecem continuamente junto com ordens superiores, e a calculadora executa essas ordens e devolve os resultados, nunca se questionando de onde vem tudo isso.
E não caberia em sua mente tamanha complexidade e estranheza que encontraria em nossa dimensão. Seus sentidos nem sequer poderiam receber as informações para formar a ideia do que é nosso mundo de tão simples e restritos que são.

É simples a vida e a mente da calculadora. Ela vive sem livre arbítrio, sem ilusões, sem sentimentos e com grande certeza de seus deveres. Seus deuses a fizeram bem.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Filhos das estrelas


A matéria que compõe nosso corpo existe desde o Início.
Um átomo qualquer na pota de um fio de cabelo meu pode ter sido parte do coração de um dinossauro, ou um pedaço de um planeta que explodiu a muito tempo. Pode ter vindo atirado de uma estrelaa e caiu aqui ou pode ter feito parte das primeiras gotas de agua que cairam sobre a Terra.
Imagine que cada átomo de nosso corpo está neste universo a tanto tempo e cada um deles veio de um lugar diferente. E todos eles se juntam neste momento para formar você e eu. Isso é o mais perto que consigo chegar da idéia de infinito.
Mesmo enquanto vivos, perdemos e ganhamos muita matéria. Nós trocamos de corpo várias vezes durante a vida e ganhamos novas memórias e perdemos outras.
Por que então eu continuo sentindo que sou eu mesmo, se é tão obvio que não sou hoje a mesma pessoa que era ontem? Será que tenho alma?
Nosso espírito não é nada. Ele existe só pelo breve espaço de tempo em que nosso corpo está vivo e consegue organizar a energia para se manter. Já nossa carne é eterna. Sempre existiu e sempre existirá.
Nós somos a consciência do universo. Surjimos da necessidade que ele tem de existir. Assim como cada neurônio em nosso cérebro junta-se aos outros e forma nossa mente, nós juntos formamos a mente do cosmos.
Talvez estejamos apenas no começo da formação desa mente, e estejamos destinados a nos espalhar e a aumentar infinitamente os pensamentos. Ou talvez sejamos apenas um ponto isolado na imensa mente de nosso universo que pode já existir a muito mais tempo do que seja possível imaginar.