segunda-feira, 29 de março de 2010

Demência

Vozes em minha cabeça.
Não me deixam dormir. Ao menor descuido elas me enganam, gritam e não psso ouvir mais o que entra pelos ouvidos.
Às vezes me levanto e grito: "Silêncio!!! mas é só mais uma voz no meio de todas. Elas mal me ouvem e logo me confundem e me afogam.
Eu imploro, mas elas riem de mim e me afogam novamente.
Gritam horrores, quebram coisas, devoram meus pensamentos, cagam absurdos e atrocidades.
Me iludem com um sono fino somente para me acordar com o pânico.

Me arrasto até o banheiro. Me jogo com força contra a parede uma, duas, três vezes. Quebro a cabeça. A merda se espalha pelo azulejo.
Deitado, sinto as vozes vazando junto com a merda. Sinto-as escorrendo e descendo para o esgoto.
Silêncio afinal.

sábado, 20 de março de 2010

O Mundo Como Representação

Visão.
A luz bate num objeto e é refletida. Entra no olho e atinge o nervo ótico que a transforma em impulsos elétricos, ativando um conjunto de neurônios para formar a imagem no cérebro.
Em experiência num laboratório mostra-se um circulo a uma pessoa e um determinado padrão de neurônios é ativado, mostra-se um quadrado e um outro padrão é ativado. Assim, cada objeto mostrado ativa um diferente padrão de neurônios.
Depois de registrados os padrões no computador, pode-se induzir artificialmente a ativação dos neurônios e fazer com que a pessoa veja quadrados ou círculos mesmo que eles não existam (todos os sentidos funcionam com este princípio).
Registrando-se, então, muitos padrões e definindo quais neurônios funcionam em cada caso, poderíamos induzir no cérebro humano qualquer objeto imaginável (ou até mesmo objetos inimagináveis) e fazer a pessoa acreditar que aquilo realmente existe e, com número suficiente de dados, poderíamos não só fazer a pessoa ver, mas também ouvir e sentir coisas que "não existem".
É assim que funcionaria a Matrix.

O que concluímos disso é que não conhecemos nenhum objeto, mas apenas representações de coisas que nunca poderemos saber como realmente são.

E o que assusta mais e nos leva à loucura é o pensamento de que nunca poderemos saber se o mundo que as outras pessoas veem, ouvem e sentem é o mesmo que vemos, ouvimos e sentimos, isto é, nunca podemos saber como ocorre a representação na mente de outra pessoa.
É claro que se pode facilmente determinar que os neurônios ativados são os mesmos em todas as pessoas que veem um círculo, por exemplo e, mais fácil ainda, é perguntar para a pessoa "O que você vê?" e ela dirá: "Um círculo". Mas ao pensarmos mais profundamente, lembramos que, ao ver os neurônios em simulações no computador ou ouvir a pessoa da experiência dizendo: "Isto é um círculo.", devemos ter em mente que aquela imagem na tela e aquela voz assim como a própria pessoa não passam de representações em nossa mente e não as conhecemos realmente. Essas coisas podem, na verdade, ser totalmente diferentes ou podem mesmo não existir! Isto se deve ao seguinte, os cientistas sambem que o cérebro produz estas representações do mundo, mas para onde ele as manda ainda é um mistério. As imagens são poduzidas e se espalham pelo cérebro e em algum momento elas encontram a consciência, mas onde e como isso acontece, ninguém sabe.
Nosso cérebro nos engana tantas vezes quando sonhamos, por exemplo, ou quando temos alucinações causadas por drogas, quem nos garante que ele não nos engana o tempo todo nos escondendo algo ou mostrando mais do que realmente existe?
Deparamos-nos com a maior solidão possível de ser experimentada.
Pensamentos deste tipo têm seu lugar em manicômios e, nesse caso, não devido a loucura, mas a lucidez em excesso.

Certas culturas entendem a consciência como um sexto sentido, ou sentido interno.
Imagine que uma pessoa tenha seus sentidos desligados um a um numa experiência: primeiro olfato e o paladar, depois a audição, a visão e por fim o tato. Esta pessoa continuaria sentindo seu "eu"? Continuaria tendo consciência? Onde está esse “eu”? Seria apenas uma ilusão?
Muitas perguntas e poucas respostas.
A pessoa sem sentidos certamente perderia toda a noção do espaço, e somente poderia se situar, mesmo que com dificuldade, no tempo. Daí diz-se que a consciência só pode ser localizada no tempo, e nunca no espaço.
O mestre Schopenhauer defina o tempo assim: Cada momento só existe na medida em que aniquila o momento anterior para ser de novo rapidamente aniquilado pelo próximo.
Assim, o presente é um limite infinitamente pequeno (inexistente) entre passado e futuro e estes, por sua vez, não têm existência em si. Então o tempo se resume a uma coisa que não existe separando duas outras coisas que não existem...
A ilusão de tempo é causada pela memória que organiza as coisas numa certa ordem, e é somente dela que vem essa noção (ilusão).

Nada é realmente como nós pensamos que é.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Radiohead - Alien Subterrâneo com Saudade de Casa


Cheiro da manhã...eu sempre me esqueço do ar quente do verão.
Eu vivo numa cidade onde não se consegue sentir o cheiro de nada e você tem que tomar cuidado com os pés por causa dos buracos no chão.
Lá encima os ET's passeiam fazendo vídeos para o pessoal lá de sua casa. Filmam estas estranhas criaturas que trancafiam seus espíritos, fazem buracos em si mesmos e vivem de seus segredos.
Estão todos reprimidos.
Eu queria que eles descessem numa estrada isolada tarde da noite quando eu estivesse dirigindo, me levassem a bordo de sua linda nave e me mostrassem o mundo do modo como eu amaria ver.
Eu contaria aos meus amigos mas eles não acreditariam. Diriam que eu finalmente enlouqueci completamente. Eu lhes mostraria as estrelas e o sentido da vida e eles me dariam as costas...mas eu ficaria bem.
Só estou reprimido.

quinta-feira, 18 de março de 2010

O que somos?

Seria possível que existisse o universo sem que houvesse ninguém para vê-lo? Isto é, se nenhuma forma de vida estivesse aqui para ter consciência da matéria, do espaço e do tempo?
E o contrário? Seria possível que existisse uma consciência sem que houvesse um universo do qual ser consciente? Sem um mundo e sem um corpo, a consciência ainda teria consciência de si mesma? Seria uma consciência da consciência da consciência da consciência...
A quem diga que ambas situações são, impossíveis, e que o mundo só exista se um sujeito puder ter consciência dele, e que este sujeito só existe se puder ter consciência de algo.

Quanto à consciência:

Observando simples evidências, observamos que a consciência está diretamente relacionada à matéria.
Por exemplo, um dano na cabeça, ou uma droga afetam muito eficientemente a consciência ao causar alterações no cérebro que nada mais é do que matéria. Assim a consciência nada tem a ver com uma alma imaterial (se é que existe tal coisa. Se existir, não tem nenhuma consciência, por isso não a sentimos no corpo, pois só podemos sentir matéria).
A consciência está, portanto, no cérebro, condicionada a todas as leis da matéria do espaço e do tempo.

(É claro que tem várias coisas que não conhecemos, como outras dimensões e tantas coisa que nem podemos imaginar que poderiam explicar nossas almas, mas tentarei me manter no campo do conhecido.)

A consciência nasceu no universo e faz parte dele assim como qualquer pedra ou qualquer reação química.
Nosso corpo é feito de bilhões de outros corpos. Nosso ser é feito de bilhões de outros seres. Eles se juntam num sistema complexo para formar nossas consciências, nossas existências. Somos feitos com pedaços do universo, somos a vida e a consciência dele.
Nós somos o universo.

Do mesmo modo que cada neurônio do cérebro (cada um é um ser vivo), com suas funções básicas, se unem e se comunicam formando um complexo vasto que é mente e a consciência humana, cada ser humano se une e se comunica formando uma macro-consciência, e eis que o planeta Terra é um imenso cérebro.
No início da vida havia apenas seres unicelulares, que, com as mutações da evolução, vieram a se agrupar em seres mais complexos sucessivamente, e hoje os somos a união de vários seres microscópicos. Quando penso que sou apenas um ser, estou totalmente enganado, pois sou na verdade trilhões de seres. São os indivíduos unindo-se num sistema para formar um novo indivíduo muito mais complexo que é cada um de nós. E, do mesmo modo, nos unimos formando o imenso ser que é a biosfera da terra.
E a cadeia continua infinitamente enquanto existir vida.
O todo contido na parte.

Nós somos o início da tomada de consciência do universo. O que está acontecendo é isto: Ele quer existir, Ele quer pensar.
Imagine que você é uma pessoa sem consciência de si mesma. Você não existiria, a não ser, é claro, para as pessoas fora de você, mas para si mesmo, não existiria. O mesmo ocorre com o cosmos, mas agora (com o surgimento da vida) ele está adquirindo consciência de sua própria existência.
Nosso planeta é só o início. Nossa missão, como partículas da Grande Consciência é nos espalharmos pelas galáxias levando a consciência a cada canto obscuro e vazio, tornando-nos cada vez mais unos e mais conscientes de nós mesmos.
Somos um com o Universo, pois nós o somos. Tudo e uma coisa só.
Esta é a razão de estar-mos aqui.
É isso o que somos.

Ps: Segundo cientistas, mais de 90% da matéria existente no universo é matéria escura, que é um tipo de matéria impossível de ser vista, e que seria algo que desse uma espécie de ordem na disposição da matéria normal e que preenchesse o universo inteiro. Como se fosse um suporte, ou coisa parecida.


Abaixo vai uma imagem de como a matéria escura dispõe a matéria no universo:














que é incrivelmente parecido com os neurônios em nossa cabeça abaixo:

quinta-feira, 4 de março de 2010

Schopenhauer

"Na infância, nos situamos frente ao futuro de nossa vida tal qual crianças frente à cortina do teatro, na alegre e tensa expectativa das coisa que virão. É uma sorte não sabermos o que efetivamente virá, pois para quem sabe, poderá. ás vezes, parecer que as crianças são delinquentes inocentes, condenadas não à morte, mas à vida , as quais ainda não ouviram o conteúdo de sua condenação. Não obstante, ainda assim, todos querem para si uma vida prolongada; por conseguinte aspiram a um estado em que a situação é: "Hoje está mal, amanhã será pior, até que sobrevenha o mal definitivo"."
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"É uma verdade incrível como a existência da maior parte dos homens é insignificante e destituída de interesse, vista de fora e como é surda e obscura sentida de dentro."
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"Os homens assemelham-se a relógios a que se dá corda e trabalham sem saber a razão. E sempre que um homem vem a este mundo, o relógio da vida recebe corda novamente para repetir, mais uma vez, o velho e gasto estribilho da eterna caixa de música, frase por frase, com variações imperceptíveis."
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"Toda alegria é um erro, uma ilusão, já que nenhum desejo realizado pode nos satisfazer por tempo duradouro e, ainda, porque toda posse e alegria só podem ser concedidas pelo acaso, por tempo indeterminado, conseguintemente podem ser retiradas na hora seguinte. Todo sofrimento baseia-se no desaparecimento dessa ilusão. Alegria e dor nascem, portanto, de um erro. O sábio, no entanto, sempre permanece distante da alegria e da dor, e nenhum acontecimento o perturba."--A chamada "felicidade" é concebida erroneamente pela grande maioria das pessoas, que a veem como uma vida cheia de alegrias, quando na verdade, ela é uma vida equilibrada, não com o equilíbrio entre a quantidade de alegria e a quantidade de dor, mas com a ausência de ambos.
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"Falta muito para que a razão corretamente empregada possa livrar-nos de todo fardo e sofrimento da vida e conduzir-nos à bem-aventurança. O que encontramos ainda é uma completa contradição em se querer viver sem sofrer." (...)
"O estoicismo inclui em seu preceito para uma vida feliz uma recomendação de suicídio, sendo esta a única corrente de pensamentos que o faz, já que todas as outras pregam a virtude mesmo perante o maior dos sofrimentos, e não querem que , para escapar dele. o ser humano atente contra a vida; contudo, nenhuma delas conseguiu expressar o fundamento verdadeiro da rejeição do suicídio, mas apenas colecionam de maneira laboriosa fundamentos ilusórios de todo tipo."(...)
"Assim como entre os déspotas orientais também encontramos entre seus valiosos ornamentos e objetos um precioso frasco de veneno, para o caso de os sofrimentos do corpo, impossíveis de ser filosoficamente eliminados, serem tão intensos e incuráveis que o seu fim único, a bem-aventurança, é obstado e nada resta para escapar ao sofrimento senão a morte, que, como qualquer outro medicamento pode ser tomado com indiferença."

Schopenhauer 1788-1860