quinta-feira, 15 de abril de 2010

Dinossauros

No dia de minha morte eu vaguei pela Terra escaldante uma última vez.
Já não podia mais sentir os pés pois estavam queimados assim como a pele grossa de minhas costas.
O ar sufocava a cada respiração. Eu o sentia entrar passar pela garganta até os pulmões e queimava por dentro. Sentia gosto de sangue escorrendo na garganta.
Ao longe eu podia ver o vapor subindo do chão levando as últimas gotas de água. Já não havia mais cheiro de carne podre, minha família havia ficado para trás.
O céu estava branco.
Esse foi o cenário do dia de minha morte. Lá no alto um segundo Sol se aproximava. Sua luz e seu calor eram incrivelmente superiores aos do primeiro.
Os fracos morreram, mas eu ainda resistia em minha última hora.
Senti o cheiro e vi ali caído no meio do nada uma camarada ainda vivo. Podia-se ver suas costelas se movimentando num esforço descomunal para continuar respirando aquele ar apocaliptico.
Como somos tolos! Porque continuamos respirando nesses dias?

O velho instinto tenta aguçar meus sentidos e minha mente entra no estado de batalha uma última vez. Lá dentro a voz de infinitos ancestrais gritam dentro de cada veia e suas vozes ressoam em minha mente insignificante. A mensagem é clara: "SOBREVIVA!"
Não tenho capacidade para sobrepujar a vontade. Me aproximo para atacar como sempre fazia quando meus companheiros estavam comigo mas não tenho forças, minhas pernas não respondem, não enxergo como antes, não consigo respirar.
Num último impulso de vontade de vida o moribundo a meus pés se assusta e, antes de perder a consciência, acerta um golpe profundo rasgando minha pele e entranhas. Desvaneço e desmorono ao seu lado. Somos o mesmo.
Meu olho queima em contato com o chão escaldante. Sinto cheiro de carne queimada. Não importa mais, o calor destruiu meus nervos.
Me entrego completamente ao fim e descanso pela primeira vez em minha vida. Não há mais pelo que lutar.
O sangue escorrendo penetra no solo mostrando-me o caminho.
Minha carne se espalha e frita no chão seco e eis o que vejo em meu último dia: o segundo Sol cai sobre Terra para acabar os poucos que restaram. Vejo o céu se transformar em fogo e um estrondo destói o que me resta de audição.
Foi a coisa mais linda que ninguém jamais viu e jamais verá verá. Foi o último dia de minha vida. O fim da luta.
O alívio absoluto toma conta de meu corpo e já não sinto nada. Nada mais a temer.
Meu espírito morre junto com meu sofrimento.

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