quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

E agora? (Hello Nietzsche ♥)

Façamos um exercício de honestidade.
Veja alí: lá vai aquele homem louco falando sozinho. Ele acredita que tem um outro com ele, e os dois se divertem à beça conversando o dia todo. E um não vive sem a companhia do outro, pois não poderiam suportar a solidão.
Na verdade, eles se conheceram no momento de maior solidão.
Aquele homem havia perdido a casa e a família, estava arrependido de tudo que fizera na vida, estava a beira do suicídio. Então os dois se encontraram num bar e não se separaram mais.
Agora sempre que surge algum problema, ou o passado voltava para deprimir, o amigo está sempre lá com um ombro para chorar.
Lá vai este homem no meio da rua falando sozinho. Deve ser esquizofrênico o pobre diabo. As pessoas têm medo de chegar perto. Algumas batem e chutam.
Na verdade, a maioria deseja que ele morra logo.

Agora olhe alí. Lá vai aquele outro homem indo à igreja com sua família. Este sim é um homem perfeitamente normal, veja: ...mas espere. Ele está falando sozinho igual ou doido. Veja! Ele está extasiado gritando e pulando! Ele está falando com outro homem imaginário igual ao amigo do doido.
É claro que este amigo tem muito mais influência nas rodas, afinal, são muitos os doidos que o vêem.
E este amigo imaginário surje numa época parecida com a daquele outro, mas este é o Amigo Imaginario Padrão.
Assim você pode ficar louco sem fugir do Padrão do rebanho. Está é a loucura oficial da sociedade, e só ela é permitida.

O que é a "verdade"?
Ora, a "verdade" é a mentira convencional.
A verdade é a mentira que foi aceita por todos, ou pela maioria. No final tudo é mentira, mas algumas são mais bonitas.
É tudo uma questão de padronização e de utilidade, afinal nós seres humanos, não passamos de meros animais de rebanho, sem metáforas ou analogias. É isso mesmo o que somos. Igual às ovelhas.
A única diferença é que somos um pouco mais difíceis de controlar. Mas só um pouco.

Agora veja aquele outro maluco alí.
Ele se mata de trabalhar todos os dias. Vendeu sua juventude por um salário mínimo.
Não importa o quanto ele se esforce, o quanto sue, o quanto sangre, o quanto passe fome, o quanto tolere, o quanto sofra, ele sempre terá que acordar amanhã e fazer tudo de novo.
É claro que ele tem uma saída simples que todos conhecemos, mas este doido também tem o Amigo Imaginário Padrão que sussura coiss em sua cabeça. Ele diz: "Não se importe com o sofrimento, é tudo ilusão. Quanto mais você sofrer, mais você terá prazer depois da morte. Eu gosto de vocÊ assim, pois eu não gosto de quem não sofre. Sofrimento é a melhor coisa dessa vida, por que quanto mais sofriento você conseguir na vida, melhor vai ser o presente que eu vou te dar depois!"
E assim ele se vende mais e mais e sofre mais e é mais submisso e mais obediente e mais doente e dependente. E tudo isso com um sorriso no rosto.
E no final é isso que importa. Depois que ele morrer não terá mais nenhuma serventia. O importante é que se conseguiu disfarçar a escravidão e fazê-lo, ainda, ficar feliz com isto.
Grande feito! Grande feito!
Pobre coitado. Não sabe que seu Amigo trabalha para os Poderosos, que são aqueles que realmente podem comprar e vender vidas.

Uma mentira contada muitas vezes e com muita convicção torna-se verdade.

Estamos em pleno século XXI. Devemos rir de nós mesmo se ainda tentamos procurar algum motivo para continuar aqui.
O que estamos fazendo? O que?
NADA!
Não existe progresso, isto é, o desenvolvimento (científico, social, "espiritual" que seja) não leva a lugar nenhum. De fato, não há este "lugar" ao qual a história vai nos levar, a não ser que seja a destruição.
Só vivemos então por conta da ignorância e da busca do prazer.
No fundo estamos todos dizendo "Que me importa se o mundo vai acabar? Eu vou morrer de um jeito ou de outro. Todos vão morrer de um jeito ou de outro."
E estamos errados ao pensar assim?
Somente alguém que acredita numa essência oculta da existência pode contrariar este ponto de vista. Mas como foi dito, estamos em pleno século XXI, Deus está morto(embora seu cadáver permaneça insepulto). Não há ninguém para nos responsabilizar e ninguém para responsabilizarmos. Estamos sozinhos no mundo e somos donos e senhores de nossos próprios atos.

Apenas os loucos são iludidos pelo Amigo, e estes loucos são a maioria esmagadora da humanidade.
O que fazer então?

No fim das contas, somos apenas seres humanos. Fomos cruelmente jogado neste mundo e providos de consciência. O que se pode esperar de criaturas assim?

Um comentário:

  1. Como consegue ser tão claro, tão direto? Só consigo falar por metáforas, abusando das entrelinhas. HAHA Seus textos são um presente para a humanidade. Parabéns!

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