terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Devir

Daqui a cem anos (ou um pouco mais), é certo que todas as pessoas que estão vivas hoje estarão mortas, mas ainda assim existirão tantas, ou, como é bem provável, mais pessoas do que existem hoje.
Serão todas elas pessoas diferentes das de agora. Será outra humanidade completamente diferente que viverá no seu "presente" e o agora será "passado", como as águas do rio que passaram ontem, pois somos todos filhos do Devir.
E Ele é o mestre de tudo.

Sabemos que nada é eterno. Todas as coisas que surjem em nosso mundo são destruídas. Tudo que está sujeito a surjir está sujeito a cessar.

"Tudo que brilha se torna ferrugem;
tudo que está no tempo torna-se poeira."

Isto não é totalmente correto, pois, se pensamos que alguma coisa se quer surje, é porque nossa visão é limitada e vivemos num período tão pequeno no tempo quanto um inseto num jardim.
Lá vai a formiga pensando sobre como seu formigueiro já estava lá quando ela nasceu e ainda estará lá quando ela morrer. Não lhe passa pela mente que aquilo é só um buraco no chão, e que ele não dura depois da próxima chuva.

É fácil pensar que o que vemos nas nuvens são apenas formas que elas assumem ocasionalmente em seu movimento ininterrupto.
Mas é difícil pensar que o mesmo se da com tudo a nossa volta: o chão, o ar, a mesa, as árvores, o sofá, o próprio corpo.
Estes objetos são apenas formas temporárias e não existem a não ser na hora em que lhe damos um nome. São como rostos que se formam nas ondas dum rio.
Mesmo eu e você somos apenas uma forma temporária assumida pela matéria em seu movimento perpétuo.
E estas são as únicas coisas que existem: a Matéria e o Devir, pois o Devir é a matéria e a Matéria é o Devir.
Mesmo meu corpo como é agora não é o mesmo que era quando criança. Células morreram e outras nasceram a partir do que é assimilado e do que vem da terra e para ela voltará e meu corpo não é senão mais um escravo do Devir, Senhor do Universo.
Pois o Devir é o Movimento, a Mudança, o FLUXO, e esta é a essência de tudo o que existe.

"É impossível entrar num rio duas vezes, pois na segunda vez já não será o mesmo rio."

2 comentários:

  1. "É impossível entrar num rio duas vezes, pois na segunda vez já não será o mesmo rio." Pretendia citar essa frase no comentário. haha! Tudo bem, eu reformulo minhas palavras. Expressou-se de maneira linda! Linda e clara. Seus textos, para mim, têm o calor do abraço. Parabéns. E obrigada.

    ResponderExcluir