quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Como somos feitos de nada

Toda consciência é consciência de alguma coisa.
Tenho consciência do que faço, do que vejo, do que sinto, do que penso...
Posiciono-me fora de algo para poder "ver" este algo e saber que ele está lá e é diferente de mim.
Porém, tenho consciência de mim mesmo, isto é, a consciência é ciente de si mesma.
Mas nós não sentimos esta consciência o tempo todo do mesmo modo que não sentimos a roupa em nosso corpo o tempo todo, embora ela esteja lá. Só percebemos prestarmos atenção.
Porém é mais difícil perceber a consciência da conciência. E é uma experiência aterradora.
O que acontece é que a consciência sai de si para reconhecer a si mesma como algo fora dela, e a sensação é de que se está observando a si mesmo fora de si. E então percebe-se que a mente não tem fundações e o "eu" é nada.
Somos feitos de nada.
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A percepção vaga deste nada, porém, é inerente de todos nós, e por isso estamos continuamente tentando encontrar bases para nós mesmos, e daí vem a angustia de nunca conseguir encontrar uma base.
O ser humano é uma criatura sem lar.
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Somos escravos disso. Tentando inutilmente preencher o Nada a cada dia, cada hora, cada segundo, cada respiração, cada movimento e pensamento.
Mas não se pode preencher o Nada. Nunca chegaremos a lugar nenhum.
Desistamos.
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(Sartre, Hegel, Husserl, Heidegger)

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