Ele não me comeu por dentro, ao menos não fisicamente, pois ele é o monstro da repressão. Ele captura qualquer sentimento que ele acha que não deve sair no momento em que nasce e vai juntando todos eles bem apertados lá no fundo da minha cabeça e os come lentamente nunca deixando-os ver o mundo de fora.
Esses sentimentos são como uma droga para ele. Ele gosta de acumular esses sentimentos em seu corpo e ele fica cada vez mais eufórico e alucinado dentro de meu crânio escalando as paredes e aterrorizando pensamentos inocentes.
O alarme então dispara quando se empanturra de sentimentos reprimidos, quando não cabe mais nada em sua barriga, quando ele se perde e enlouquece num frenesi incontrolável e caótico aterrorizando todos os pensamentos e tudo o que entra em minha cabeça. O Caos se instala em todo meu corpo como se ácido estivesse corroendo minha mente.
O cérebro não suporta e me manda fugir. Eu corro desesperado pelas ruas gritando por ajuda, mas é uma fuga vã, pois o monstro está dentro de mim, enlouquecido e sedento. Onde quer que eu vá eu o levarei.
Ele fala comigo com sua voz fantasmagórica desprovida de linguagem.
Ele é aquele que não deveria ser.
O horror sem sentindo incorporado por uma criança.
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É tarefa de uma vida domar o monstro. É tarefa para duas matá-lo.
